terça-feira, 19 de outubro de 2010


Subo a rua, por entre as árvores, guiada pela luz intermitente da estrada… consigo ouvir o pulsar do meu coração e o vento a dançar com as folhas. Vagueio em silêncio, e em câmara lenta. A luz da estrada, engrandece a beleza do Outono.
As cores quentes das árvores, a imensidão de folhas caídas trazidas pelo vento, como um tapete a saudar a chegada do Outono fazem com que meu coração ria ao ver este festival de cores… Sente-se maior. E as estrelas brilham, e apesar de estarem distantes, aquecem a alma… e enchem-na de paz!
Como serei eu capaz de ordenar ao meu próprio ser , que deixe de ouvir o coração? E deixar de admirar tamanha beleza?
Vagueando em silêncio, nesta rua iluminada pela luz intermitente da estrada, eu ouço a tua voz dentro de mim, como se estivesses ali, lado a lado comigo.
Sinto a tua respiração e o calor de cada expiração, as tuas mãos procuram as minhas, estão húmidas, mas frias.
Não dizes nem uma frase com sentido, apenas palavras deitadas fora. A tua boca não mexe, mas o teu coração grita por dentro, quer dizer tudo que o magoa. Não tens coragem de me mostrar o teu lado mais profundo… Não tenhas medo, penso sussurrando. Diz o que te deixa mal disposto, o que não gostas de ver e de sentir, encara-me como uma folha em branco e que precisa de ser escrita. Entrega-me a tua alma… dá-lhe voz!
Explode. Não tenhas medo de me bombardear com palavras sinistras ou negras. Diz apenas o que te vai no coração.
Eu digo para te mostrares, mas eu também não consigo proferir uma única palavra. Estou numa posição que não me deixa ter poder algum.
Enquanto subimos a rua, lado a lado, de mão dada, percorremos um caminho que nos parece infinito, e a rua vai aumentando o seu declive. A cada minuto que passa, custa cada vez mais dar um passo. As nossas mãos estão-se a separar, e nós já não acreditamos um no outro para agarrar e não largar. De repente, um vento frio esbate nos nossos corpos que vagueiam por cima das folhas queimadas em tons de vermelho e amarelo. Esse vento trouxe com ele nevoeiro. Aí, senti os teus lábios tocarem nos meus, tinhas os teus lábios em fogo, nesse instante todo o meu corpo aqueceu, senti o Mundo parar. Depois continuei a caminhar, e a sentir os meus lábios arder, mas agora, deixei de ouvir a tua voz, deixei de sentir a tua mão, deixei de sentir a tua revolta, e perdi-te na neblina.
Olhei para trás, uma réstia de rancor vagueava no ar… mas as folhas tingidas com o sangue vermelho da luz do Sol, desenhavam todos os momentos de amor. Formou-se uma porta, pela qual ainda não te vi sair, e por onde ainda não me propus a entrar.
Mas ainda sinto o bater do meu coração, e se ele bate, é porque tu ainda existes, é porque tu ainda andas lado a lado comigo na rua. É porque consigo ouvir a tua revolta, e sentir a tua dor.

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