terça-feira, 9 de novembro de 2010

Precoce demência

Numa noite em que as ruas gritavam silêncio.Em que o céu não escurecia, e as estrelas não piscavam. Em que o calor da lareira não era mais do que um simples tilintar da madeira, e umas quantas pinceladas de sol. Numa noite em que o meu corpo flutuava nos lençóis, e a tua presença, não era mais do que uma simples fantasia, uma alucinação da minha precoce demência.
Cada respiração minha se tornava mais profunda, mas cada batimento cardíaco era mais acelerado, mais compulsivo, ofegante. E por conseguinte, a dificuldade em adormecer era evidente... Cada pensamento me levava a um caminho diferente, mas todos eles me levavam ao teu olhar. Eu queria dormir, mas sempre que baixava as guardas, lá vinha o te olhar, ou o teu perfume, ou o teu toque, ou o teu sussurro, ou as tuas conversas, ou então os teus beijos, ou a tua capacidade para me manter acordada. Odeio-te por isso. Mas amo-te por te odiar. é contraditório mas verdadeiro. É a verdade crua e nua! Eu odeio-te por tudo que me faz te amar, eu amo-te por tudo o que me faz te odiar. É simples! Mas não deixa de doer, porque eu viro e reviro o meu corpo na cama, e não consigo dormir!
O teu fantasma persegue o meu sono, devora a minha paciência! Esmaga qualquer tipo de paz que a minha mente possa ter, e aí, desespero, irrito-me e levanto-me da cama, caminho pela casa, expulso os demónios do meu corpo, cego-os com a luz do dia, e deixo-os queimar com a aurora.
Sei que foi mais uma batalha, é como se estivesse a passar por um processo de desintoxicação... O que custa mais é aceitar que se tem um problema ( e o meu é odiar-te por amar-te e vise-versa) depois a cura está a um passo... Já lá vão as noites em que contava as horas , em que uma hora parecia ter duas horas. E as luzes dos candeeiros da rua parecerem os teus olhos. Já lá vão as noites em que a tua voz percorria a minha pele, em que as tuas palavras me arrepiavam, em que nos ríamos ás gargalhadas, em que chorávamos com as declarações de amor, em que simplesmente ouvia-mos a respiração do outro. Esse tempo, não é mais do que simplesmente uma boa recordação.
Agora, o segundo passo é evitar o que nos torna dependentes, ou seja, é passar por ti e fingir que não te conheço, e este passo, ainda não o consegui superar, porque ainda sinto borboletas borbulhar no estômago, ainda tremo, ainda me dá vontade de sorrir quando te vejo ou quando pressinto a tua presença. Que hei-de fazer? Fugir de ti? Evitar-te?! Eu não sei, "apenas sei que nada sei".
Estar apaixonado é como estar sob o efeito de droga, e depois, como é viciante não se quer parar, e isso leva-nos a desgastar a relação e a nós próprios. Foi o que aconteceu. E neste momento a separação, ou o isolamento, foi a única alternativa possível, ou seja, a desintoxicação.
Agora, perduram as noites em que os poros da cara são salinas, em que os olhos são espelhos de sangue, que que o relógio é uma bomba para os ouvidos em que a tua voz fica para lá de um fio.
Já não posso dizer que te amo ou que te quero. Isso já não tem valor. Tu sabes que me tens quando quiseres, e embora eu ache que não deveria ser assim, eu não aguento, e tenho inúmeras recaídas.
Hoje, numa noite em que as nuvens cobriram o céu, em que a lua fugiu com o Sol e tu continuas a perseguir-me, eu desisto. Desisto de querer algo que não posso ter. Mas eu não posso desistir, quem ama não desiste.
O relógio pode até parar, mas os ponteiros nunca voltam para trás. E esta noite, não é excepção. Vou fechar os olhos, pode ser que o amanha seja melhor. Esta noite, o teu fantasma, pode fazer-me companhia, eu não me vou incomodar. Pelo menos, eu sei que com ele eu vou estar acompanhada.

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